3 histórias de amor na pandemia

Um namoro virtual, um namoro caseiro e um namoro por estações


O coronavírus mudou a forma que nós nos relacionamos com a vida, com as nossas famílias e amigos, e até com nós mesmos. Mas, se tem algo que mudou muito com o novo normal, foram os relacionamentos amorosos, principalmente de jovens. Nada de se conhecer aos poucos tomando sorvete na praça, os casais nascidos e criados na pandemia têm que se virar com o que tem. Hoje eu trouxe para vocês a história de três casais eu mesma incluída cuja maior parte do relacionamento foi no cenário pandêmico.


Namoro à distância



Isabela Stanga e Lucas Daniel de Lima, ambos de 19 anos, começaram a namorar oficialmente no dia 21 de fevereiro de 2020, pouco menos de um mês antes do início da pandemia. Desde então, eles têm respeitado um distanciamento social de 40km cada um em sua casa, em pontos opostos da Grande Curitiba. Eles se conheceram no começo de 2019, pelo campus da UFPR Juvevê, os dois alunos de Jornalismo. Logo, eles conquistaram a atenção um do outro, mas, tímidos, levaram um tempo para dar o primeiro passo.


“Acho que a maior dificuldade, além da distância, foi a quebra da expectativa. Estávamos juntos há um bom tempo antes de começar a namorar. Parece bobo, mas virar essa chave traz uma mudança de perspectiva e desejos sobre o rumo do relacionamento.”  Lucas.

 

Durante esses dez meses de coronavírus, eles conversaram por mensagem, ligação e chamada de vídeo, coisas que não costumavam fazer antes, com o convívio diário na universidade: “Somos meio desprendidos do celular, então agora na quarentena conversamos algumas horas, daí um some fazer outra coisa. Sempre estamos nos falando, mas sem aquela cobrança de ser a todo minuto.”, conta Isabela.

Além das ligações, os dois mandam presentes nas datas especiais, como o aniversário de cada um, e mantém as ligações animadas: “durante uma ligação pra matar a saudade, nós fazíamos algum jogo bobo, mas divertido, que não tornassem as conversas um papo chato sobre como seria melhor não estar enfrentando uma pandemia”, disse Lucas. Em uma ligação, eles fizeram uma lista de coisas que querem fazer quando tudo isso passar.


“Enchemos ela com as famosas ‘metas de casal’, com coisas como: fazer piquenique, adotar plantas e conhecer lugares. Algumas metas clichês de todo casal, outras totalmente aleatórias mas bem pessoais.” - Lucas
“A lista já aumentou muito e inclui de tudo, desde cozinhar juntos até viajar. Mas a primeira coisa que eu gostaria que fizéssemos juntos seria passear pelas ruas de Curitiba, pelos parques e shoppings, comer alguma coisa no caminho, como fazíamos antes.” — Isabela


Uma única vez, Lucas conseguiu ir à casa de Isabela, tomando todos os cuidados, e eles esperam repetir o encontro no aniversário de um ano de namoro. Foi um primeiro ano de namoro difícil, mas a distância não impediu que eles criassem memórias juntos e se conhecessem melhor. 


“Eu acredito que a distância fez com que nós aprendêssemos a ouvir melhor o que o outro fala, a prestar mais atenção nos pequenos detalhes da rotina um do outro, a se abrir mais. Tudo isso fez com que conseguíssemos criar mais intimidade.”  Lucas
“Eu aprendi a ter mais paciência no geral, a expressar mais vezes os meus sentimentos e o que me incomoda e a conversar mais sobre tudo. E também que o companheirismo é mais do que a presença física, ele está nas pequenas coisas do dia a dia, como apoiar os projetos da outra pessoa, mesmo diferentes dos seus.”  Isabela

Mais do que isso, a pandemia mostrou que cada segundo conta: “eu aprendi a não deixar as coisas “seguirem sem rumo”. Nunca fui uma pessoa imediatista para tomar decisões (por menores que fossem) no relacionamento, mas a pandemia deu um toque de que as vezes é preciso agir logo, antes que as coisas mudem.”, relata Lucas. 

Namoro de sofá


Camille Liege, de 19 anos, e Carou Pontes, de 25, se conheceram em um grupo de fãs do BTS e começaram a namorar em 6 de janeiro de 2020. Quando veio a pandemia, elas criaram uma rotina para se ver uma vez por semana, quando era possível, e, com exceção do tão aguardado encontro, evitaram sair de casa ao máximo. O começo do namoro foi bem caseiro com muito filme e pipoca. As duas têm muito em comum e aproveitaram esse tempo para mostrar suas diferenças.


“Aprendemos a aproveitar a companhia uma da outra, assistimos a muitas coisas que ambas gostávamos, e também compartilhar coisas que gostamos individualmente  eu a fiz assistir a saga de Jogos Vorazes inteira e ela me mostrou alguns filmes de heróis, principalmente da Marvel.”  Camille.


Os encontros em um ambiente tão íntimo fizeram com que elas se soltassem mais e aprendessem as manias uma da outra: “Nós nos conhecemos mais e aprendemos a lidar rápido uma com a outra, conseguindo evitar conflitos desnecessários e brigas.”, diz Carou.  O que elas não esperavam era que o conhecimento de uma sobre a outra também se tornasse autoconhecimento. 


“A Camille me trouxe muitas mudanças e aprendizados, visões diferentes no mundo através de muitas conversas e discussões sobre coisas da vida e do mundo.”  Carou
“Eu sempre fui muito insegura com meu corpo e aprendi a me libertar de muitas coisas. As milhares de conversas que tivemos trouxeram para mim novas visões para meu futuro, e me despertou uma vontade de me libertar ainda mais de limitações que eu nem sabia que tinha.” Camille

O tempo livre, infelizmente, tinha um custo. Carou sofreu os efeitos do coronavírus na economia, ficou desempregada e viu os preços subirem diariamente: “Foram dois desligamentos de trabalhos em um ano, e tive que me virar para conseguir algum dinheiro. Tentei controlar a minha ansiedade para não pirar de vez e a Camille me ajudou a ser mais forte do que eu imaginava que podia ser.” Em outubro, Carou conseguiu um emprego no Shopping Jockey Plaza, e, na temporada de Natal, Camille passou a trabalhar lá também, de forma temporária. Infelizmente, com as aglomerações, ambas foram contaminadas pelo coronavírus na semana do Natal. 


“Foi quando passamos o maior tempo longe, inclusive o Ano Novo e o nosso aniversário de um ano, o que foi bem difícil para mim, já que tínhamos planejado passar juntas. Felizmente nos recuperamos bem, com algumas sequelas, com a perda e mudança do olfato e do paladar, o que ainda incomoda pois nós duas gostamos muito de comer (risos).”  Camille

Depois de um ano tão difícil, tudo que elas querem é fazer as coisas divertidas que um dia foram comuns: “Sair pra comer, coisas gostosas e diferentes e fazer alguma viagem bem legal pra praia. E SEM MÁSCARA!”, brinca Carou. Foram muitos desafios, elas têm uma à outra e se apoiaram ao longo do caminho. “Apesar do nosso namoro ter sido durante uma época bem atípica, sou muito grata por ter ela do meu lado.”, encerra Camille. 

Namoro por temporadas


“O mais difícil é não ter previsões de reencontro. Toda vez que partíamos, era um adeus por tempo indeterminado. Passávamos um mês juntos e nos separávamos por ainda mais tempo, era uma mudança muito brusca, do 'te ver todos os dias' para o 'não te ver por mais de mês’”  Gabriel


Conheci o Gabriel Tassi, de 19 anos, na UFPR Juvevê ele é da minha turma de Jornalismo. A princípio, ele morava bem perto da faculdade e nós passamos muuuuuito tempo juntos, literalmente o dia todo todo dia. Até que acabou o ano letivo e ele voltou para Ivaiporã, sua cidade natal. Sentimos o gostinho da distância antes de sabermos que passaríamos muito mais tempo assim. Ele mal tinha voltado para Curitiba quando as aulas foram suspensas por causa do coronavírus e mais uma vez ele retornou para o interior.

Nesse primeiro momento, achamos que a pandemia ia passar rápido. Aceitamos o desafio de respeitar a quarentena e uma viagem pelo estado parecia fora de cogitação. Mas, como todos sabemos agora, a pandemia veio para ficar. Então, em maio, Gabriel veio a Curitiba e passou duas semanas na minha casa. Quando chegou a hora dele ir embora, não suportei a ideia de ficarmos longe, e acabei indo junto. Passei três semanas em Ivaiporã. Quando voltei para Curitiba, nos encontramos de novo em um relacionamento à distância. 


“Assistíamos a filmes e séries 'juntos', jogávamos jogos online, fazíamos ao menos uma videochamada semanalmente e mantivemos um cronograma de atividades para fazermos juntos. As mensagens de texto ao longo do dia também eram uma forma de nos sentimos mais próximos.”  Gabriel

O reencontro foi em Agosto, dois meses depois. Ele veio à Curitiba para o meu aniversário e, dessa vez, ficou aqui por um mês. Imagine morar com a família da sua namorada por um mês? Com 9 meses de namoro, aprendemos a rotina do morar junto. Mas, em outubro, ele teve que voltar para casa e eu não pude ir com ele dessa vez. A distância ficava cada vez mais difícil, sentia a falta de tê-lo aqui todo dia. Não pude visitá-lo no aniversário dele, nem no nosso aniversário de um ano de namoro. 

Passamos mais dois meses separados até nos vermos no Ano Novo, aqui em Curitiba. Essa é a quarta semana que ele está na cidade e espero que fique mais um pouco. Mas, uma hora ele terá que voltar. E nós seguimos assim, decidindo as coisas enquanto elas vão acontecendo e sem poder planejar o futuro. Em alguns momentos, passamos tanto tempo juntos que nem nos aguentamos mais. E, em outros, tudo o que queremos é uma chance de estar junto. E a gente que lute para se adaptar às estações. 

Ao longo desses meses, aprendemos tudo um sobre o outro, nos acostumamos a ter o outro por perto o dia todo. Brincamos que estamos casados, já que não tivemos um começo de namoro comum, no qual você conhece a pessoa aos poucos. Para nós dois, sempre foi tudo ou nada. Independente do que o futuro reserva, passar tanto tempo separado de novo está fora de cogitação. E o sonho é voltar a se ver na faculdade todo dia e ir à Trajano beber cerveja e jogar sinuca: as duas coisas que nos uniram. 



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